Não é de agora que boa parte dos egressos das mais diversas faculdades de medicina do país busca a especialização da sua prática profissional através dos programas de residência médica. E também não é de agora essa busca tem-se tornado, cada vez mais, mandatória – seja para conseguir um “lugar de conforto” no dia-a-dia profissional, seja para se sentir seguro no dia-a-dia do exercício da medicina, seja para conseguir definir melhor o seu lugar no mercado de trabalho, o médico e a médica recém-formados têm optado por “fazer residência”.
Uma parte considerável dos egressos das escolas nordestinas – e principalmente das escolas médicas baianas – resolve “fazer residência fora”, notadamente nos Hospitais das escolas médicas dos estados de São Paulo (principalmente), Minas, Rio e em Brasília. Mas uma parcela muito grande dos médicos formados na Bahia (assim como grande parte dos médicos formados no nordeste) opta por fazer residência médica na Bahia. E o “Hospital das Clínicas” – com sua tradição, sua história e com os diferentes grupos de professores responsáveis por coordenar e atuar enquanto preceptores nos seus diferentes programas de residência – é dos hospitais mais procurados pelos aprovados no SUS-BA. Já foi o mais procurado, a primeira opção na totalidade dos seus programas. E se hoje não é mais, é porque existem algumas coisas erradas. E esse erro não é de agora.
O atual processo de Diligência vivenciado pelo HUPES, como tem sido comentário geral, é apenas a ponta de um iceberg, a ponta de um novelo de lã que foi “mais que embolado” por diferentes mãos. Em 2005 também houve uma Diligência coletiva, em que “medidas emergenciais foram tomadas” para que pudesse haver o concurso para MR1 no ano seguinte. E, ao longo dos seus 63 anos, muitas foram as circunstâncias em que o HUPES e os seus programas de residência estiveram “perigando”. Se é verdade que “sempre tem-se dado um jeitinho”, e que ele “nunca fechou as portas”, é verdade, também, que no global, a situação do nosso Hospital tem piorado. De local de tecnologia de ponta, de referência nas diversas especialidades, de “se fazer ciência”, o HUPES tem-se tornado um espaço de “tocação de serviço” para a maioria dos médicos-residentes. Evidentemente, um lugar de “tocação de serviço” onde se está do lado da maioria das grandes cabeças que pesquisam e produzem ciência médica em nosso estado. Onde ainda se aprende boa medicina. Mas onde poder-se-ia aprender muito mais se o serviços, em sua maioria, não dependessem dos médicos-residentes para funcionar. E, para mudar essa realidade, tem faltado, substancialmente, duas coisas, como bem apontam os diferentes documentos do atual processo de diligência (MEC e respostas): financiamento e uma gestão competente e comprometida – do HUPES e de boa partes dos programas de residência médica.
Se a questão do “subfinanciamento” é global e atinge todos os hospitais universitários do país – sendo que têm existido diferentes propostas e métodos para lidar com a escassez dos recursos e captar verba, tanto da parte do Governo como dos próprios Hospitais – as questões referentes à gestão, que preenchem a maioria dos itens levantados como problema pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNMR) no relatório de abril de 2011 (remetido ao HUPES, à COREME e à Reitoria), dizem respeito, única e exclusivamente, à nossa casa. E somos nós os responsáveis por “arrumá-la”. Cabe a pergunta: será que tem sido feito pela COREME e pela CEREM (Comissão Estadual de Residência Médica), efetivamente, o que é necessário para o bom funcionamento dos Programas de Residência Médica do HUPES?
Chega a ser ilógico pensar que tudo está correndo bem, que tanto a CEREM quanto a COREME – e aqui são as comissões, e não seus respectivos coordenadores/presidentes – estão dando conta do recado de organizar os programas de residência médica (PRM) do HUPES e da MCO, de fiscalizar seus funcionamentos, de realizar avaliações sérias, periodicamente, e os ajustes necessários, de organizar as atividades teórico-práticas e científicas, de cobrar o cumprimento da carga horária dos preceptores dos diversos programas e de buscar as necessárias melhorias infra-estruturais para o HUPES e os PRM – e que foi por implicância que o MEC manteve, por mais de um ano, o HUPES e todos os seus PRM em avaliação e, posteriormente, os diligenciou. Então, na verdade, tanto a COREME quanto a CEREM não têm dado conta do recado. A diligência não é atoa, e continuar apostando na impunidade, na “pizza” – como foi feito ao longo de mais de um ano, e levou o HUPES e todos os PRM a atual situação – é, pelo menos, leviano. Pois, como tem sido possível escutar nos corredores do HC, e como a história tem mostrado, se “o único motivo para não descredenciarem os PRM do HUPES é porque é o HUPES, mas os problemas vão continuar”, há algo de muito podre no reino de “Edgard Santos”. Algo que tem piorado muito ao longo dos anos, e com o que não podemos continuar nos conformando.
Se, nacionalmente, algumas vitórias importantes foram conseguidas pelos residentes após muita luta – a MP 536, publicada recentemente no Diário Oficial da União e que garante os reajustes anuais da bolsa dos MR, além de moradia e alimentação, é talvez o maior exemplo – localmente, no HUPES e na Bahia, ainda há muito por se fazer. Tanto que chega a ser difícil escolher-se por onde começar – sobretudo quando, apesar do diagnóstico dos problemas já ter sido feito (e mais de uma vez!), um dos principais sujeitos políticos dessa “briga de cachorro grande”, os próprios residentes, encontram-se desarticulados: sem uma representação formal, sem uma associação estadual dos MR forte e atuante. Talvez o primeiro – e o principal – passo a ser dado seja exatamente esse: o de se organizar para encarar o que estar por vir: a nova visita da comissão, a reavaliação, as (novas?) exigências que serão feitas. Se organizar para conseguir lutar por mudanças no seu próprio processo de formação e especialização profissional. E, como consequência, por mais qualidade na assistência à saúde realizada no COM-HUPES e na MCO.
Nessa caminhada, que os MR do COM-HUPES e da MCO tenham certeza que podem contar com o DAMED-UFBA (Diretório Acadêmico de Medicina), e de tudo que pudermos dispor – meios de comunicação, rede social, espaços de representação – enquanto aliado na luta pela requalificação do Hospital Universitário Professor Edgard Santos e dos seus Programas de Residência.
(Em 6 de novembro de 2011)
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